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BLANDINA LAVOR

O rei que virou amor

Era uma vez, um rei mágico, muito velhinho, que existia desde sempre, desde antes do universo.

Ele era muito forte e poderoso. — Ou você acha que só porque alguém é velho, é fraco? — Ele também era muito sábio.

Esse rei podia fazer e criar tudo que quisesse, mas ele só queria uma coisa: amar. Porque a Dona Sabedoria, sua amiga, lhe dissera que esse era o segredo para ser feliz.

E, como ele podia tudo, escolheu se transformar no próprio Amor.

Porém, percebeu que o amor não pode ser sozinho, tem que amar alguém, tem que ser amado também.

Assim, o rei decidiu visitar o Planeta Terra e conviver com os seres e criaturas daqui.

Não foi fácil: ele teve que trabalhar bastante, e uma parte desse trabalho foi até muito dolorida.

Mas conseguiu, veio para a Terra e começou a andar por aí, conhecendo coisas, pessoas e animais.

Esse rei gostava mesmo era de fazer amigos, ficar na casa deles, brincar com eles, contar histórias… essas coisas que se faz com amigos.

Bastava o encontrar e ficar algum tempo com ele para querer ser seu amigo, pois era alguém muito legal: tinha sempre histórias divertidas, criativas, e mesmo consoladoras, se alguém estivesse triste.

E assim, ele foi fazendo muitos amigos, conhecendo muitos países e ambientes diferentes.

Fez amigos até no fundo do mar…

em lugares coloridos…

e voando pelo ar.

O rei, apesar de tão poderoso, era muito humilde e educado: se sentia que não era bem vindo, ia embora. Isso acontecia algumas vezes, acredita?

As pessoas às vezes ficavam muito preocupadas com coisas bobas, com raiva, e deixavam o amor de canto. Aí ele ia para outro lugar. Afinal, a gente não deve forçar uma pessoa a uma situação que ela não quer, não é mesmo?

Depois que ele saia, ficava uma sensação estranha de vazio e tristeza.

Até que um dia, uma menininha chamada Flor, o convidou para se hospedar na casa da sua família, porque percebeu que aquele velhinho tinha algo mais que especial.

– Senhor Amor, já conversei com os adultos. Eles concordaram. Você quer ficar uns dias na nossa casa do sítio com a gente?

Eu vou ter que viajar com eles, mas queria continuar brincando com você, então pensei que poderia ser uma boa ideia.

O rei ficou muito contente e aceitou o convite na mesma hora. A menininha, que gostava de ser sincera, disse:

– Eu preciso preparar o senhor para uma coisa: às vezes, a casa fica muito feia por dentro, até assustadora, então eu prefiro brincar do lado de fora. Mas eu tenho a impressão, que se você for, eu não vou ter tanto medo. O que você acha?

O rei sorriu, como se já conhecesse essa história de casa assustadora e disse que claro que topava ir, disse também que achava que a menininha estava certa.

O velhinho foi de carona com Flor e seus pais. Quando chegaram, algumas pessoas já estavam lá, inclusive o tio Dadá e o tio Juju, dois irmãos que viviam brigando feio.

Aliás, essa parte da família era uma confusão: um vivia falando mal do outro, ninguém ajudava nem ouvia ninguém.

Flor foi entrando e a casa estava assustadora como sempre.

Até que olhou para trás e lá vinha o senhor Amor, conversando com alguém que estava à porta. Em volta dele, Flor viu como se saísse uma luz, que iluminava por onde ele ia passando e deixava o lugar bem bonito.

E assim, o velhinho ia convivendo e conversando com todos. Foram dias maravilhosos, cheios de carinho e diversão, por causa da mágica alegre e aconchegante dele.

O rei-amor-velhinho era muito prestativo: brincou com as crianças, ajudou os adultos com as comidas e a cuidar do jardim, até resolveu uma discussão entre o tio Dadá e o tio Juju – que fizeram as pazes e começaram a ser amigos.

Ninguém mais brigava, as pessoas começaram a ser gentis e alegres. Flor percebeu que a casa não era mais assustadora e tinha certeza que nunca mais seria.

Chegou o dia de o rei ir embora, e a menininha começou a ficar intrigada, pois tinha medo que aquela casa ficasse como antes.

Ele, adivinhando o que se passava com ela, disse:

– Não se preocupe, Flor.

– Depois que eu fico amigo de alguém, eu nunca vou embora de verdade. Uma parte de mim pode morar para sempre no seu coração, se você desejar. Você pode me levar para onde estiver, e as pessoas sentirão o efeito da minha mágica.

E você não estará sozinha: enquanto eu estiver no coração de uma pessoa, ela facilmente me reconhece no coração de outras e também na natureza e em várias situações da vida.

Ah, não desanime se um dia não conseguir sentir minha presença: é só lembrar das vezes que você conseguiu, que uma luzinha se acende no fundo do seu coração e aos poucos você volta a sentir.

E assim foi.

A partir dessa época, a vida de Flor sempre foi bonita. Ela aprendeu a reconhecer e encontrar o Amor em todos os lugares, em várias situações, e isso a fazia muito feliz. Ela sentia que ele sempre estava por perto, então nunca se sentia sozinha.

E, onde ele não estava, ela aprendeu a levá-lo, ajudando as pessoas a fazerem as pazes, a falar coisas boas umas das outras e a tentar serem mais legais.

Quando era mais difícil, ela se lembrou de acessar suas memórias de quanto já tinha sentido o amor mais forte. Ficava um pouco nessas lembranças, e tudo melhorava.

E a verdade é que o rei amor se espalhou mesmo por aí, aparecendo dos jeitos mais diferentes.

Ou você consegue dizer que cor o amor tem? Ou que forma, cheiro, som, ou hora? Eu não consigo.

Todo mundo tem capacidade de reconhecê-lo e de ter amizade com ele. E, com o poder dessa amizade, transformar pessoas, lugares e situações assustadores e tristes em bonitas e divertidas.

Basta prestar atenção.

O Amor sempre deixa pistas por onde passa, porque ele ama ser reconhecido, fazer amigos e iluminar as coisas para ficarem bonitas.

Sabe quando você abraça alguém que você gosta muito e quer abraçar? O amor está ali. Como você se sente?

Ou quando você brinca com seu amigo ou sua amiga favorita? Como você se sente? Se você se sentir muito bem e feliz, o amor está ali.

Quando você vê um bichinho, acha muito fofo e tem vontade de fazer carinho nele. O amor também está ali. Como você se sente?

Quando você fica observando uma coisa que acha bonita ou que te deixa feliz: uma flor, um desenho, o mar, uma dança, uma música, talvez? Ou um barco, ou um caminhão!

É o Amor que faz a gente achar uma coisa bonita e querer ficar vendo, ouvindo ou sentindo essa beleza, sem pensar muito. Isso se chama contemplar.

É um jeito de amar também, mais quietinho, de amar quem fez o que está sendo contemplado. Você já fez isso? Como você se sentiu?

Quando você avisa alguém que o cadarço da pessoa está desamarrado e evita um tombo. O amor está ali. Como você se sente?

Quando você diz a uma pessoa que alguma coisa que ela fez está bonito ou gostoso e você vê a pessoa ficar feliz. Como você se sente? O amor está ali também.

Não se preocupe se você não gostar de alguma dessas situações. São só exemplos.

O Amor aparece diferente para cada pessoa e nunca nos deixa mal.

Tem gente que não gosta muito de abraço ou de bichinhos. Não tem problema.

Eu só espero ter acertado alguma coisa que deixe você bem feliz e acolhida/acolhido. Assim é o Amor.

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